Das críticas e outros demônios (continuação)
Uma das dicas dos manuais para tornar-se escritor (eles existem!) é não deixar que outros leiam seu texto antes que esteja finalizado. Pois eu, como não acredito em manuais (exceto aqueles que ficam no porta-luvas do carro ou que ensinam a manusear o microondas) ignorei o conselho, como conta o post anterior.
E agora que as críticas vêm chegando, sou obrigado a, apenas por um momento, dar o braço a torcer e ver algo de sensato na manutenção do texto em segredo.
Primeiro há o fato de que as críticas negativas têm muito mais peso do que as positivas. Afinal, é muito mais fácil elogiar do que apontar defeitos. Para alguém olhar nos olhos de um escritor e dizer que seu trabalho não é bom, é preciso que o livro tenha realmente desagradado. Mas quando uma pessoa encontra o autor na rua e diz que o texto é bom, ela pode muito bem estar apenas sendo simpática e educada.
Assim, é óbvio que as críticas negativas têm mais peso. Também é óbvio que elas machucam o orgulho do autor, abalam a auto-estima e às vezes chegam até a tirar o ânimo para continuar o trabalho. Este é o primeiro fator que, ao meu ver, justifica o segredo até a publicação.
Mas há outros. Um dos principais, acho eu, deve-se ao fato de que aqueles que criticam são, assim como aqueles que escrevem, seres humanos. E seres humanos são incrivelmente diferentes entre si. Nas críticas de leitores diversos que recebi há momentos de completa contradição. A passagem do texto que um apontou como o auge do livro, foi apontada por outro como um ponto falho. E garanto que é difícil imaginar a confusão mental que esse choque de opiniões vem provocando na cabeça deste autor.
Mas, como disse lá em cima, concordo apenas por um momento com a manutenção texto em segredo. Creio que há um ponto do trabalho em que as críticas são, sim, necessárias, e que, com elas, a qualidade da obra será superior. Vários erros e pequenas contradições do texto foram pescados por meus estimados leitores críticos.
Quanto à confusão na cabeça do repórter, bem, ela faz parte de um processo tão longo como a elaboração de um livro. Ainda mais de um livro que usa elementos artísticos (portanto subjetivos), para falar sobre fatos reais (portanto imutáveis).
E quanto à auto-estima do pobre repórter, bom, ela tem que ser suficientemente sólida para resistir às pancadas. Tem que saber se esquivar daquelas que não são merecidas e receber as que são sem ir à lona.
Agradecimentos, portanto, a Adriana Yazbek, Arpad Spalding, Bruno Bartaquini, Dario Chiaverini e João Carlos Magalhães.
Esse Dario Chiaverini é seu parente?Talvez não seja um crítico imparcial…..
Na TV Uol tem um vídeo com um Laurent Garnier (não ví), talvez te interesse.
Na verdade, caro Adrio, Chiaverini é um sobrenome muito comum no meu país.
Estima-se que cerca de 63,23445% da população tenha este sobrenome em comum, número superior ao de “Silvas” no Brasil, ou de “Lees” na China.